História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

(quantidade suficiente para cozinhar a massa). Quando começar a abrir a fervura, derrama-se o leite grosso de coco. Perto de tirar do fogo, botam-se camarões secos inteiros, enfeitando por cima também, já na vasilha para servir. A fim de não criar crosta, derrama-se um pouco de dendê".

Nota: Quando se pergunta, "quer o vatapá frio ou quente", quer dizer "com" ou "sem" pimentas, pois, ao contrário do que se pensa, o vatapá deve ser servido quase frio em temperatura".

Xinxim: A galinha, limpa, cortada em pedaços, cozinha-se com sal, alho e cebola, ralados. Cozida, juntam-se camarões secos, sementes de abóbora ou melancia, também raladas, e azeite de dendê. Xinxim de galinha ou de bofes são os mais conhecidos. Fazem igualmente com carne-seca, do sertão, fato de boi, sobras de carne picadas. Os Ibos, do leste da Nigéria, conhecem uma espécie de molho com ovos, açúcar, azeite de dendê, farinha, etc., a que denominam chin-chin (Ibo Cookery Book, G. Plummer, Lagos, s. d.). Caracteriza o xinxim justamente o molho, uma forma de "carril" ou "caril", tradicional na Índia e na China, onde o "arroz de carril" viajou numa intensa divulgação. Esses molhos são populares por toda a África negra, notadamente na região oriental, mais próxima da Índia. Em Moçambique o "caril" é um esparregado com muito molho. Em Goa incluía camarões secos.

O vocábulo "Xinxim" permite-me divagação.

Pela orla atlântica africana os povos ainda possuem certos ídolos, iraras, representando os antepassados, notadamente nas populações do golfo da Guiné. Pude vê-los na Guiné Portuguesa onde são vulgares. O nome velho desses ídolos era china. "Chamam-se ídolos, porque quando foram a ela ("a região") a primeira vez os nossos acharam umas figuras e ídolos de pau que tinham os negros e que reverenciavam chamados por eles "Chinas"", escreveu o capitão André Álvares D'Almada (Tratado breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde, 1594). O nome "China" era pronúncia portuguesa do verdadeiro, identificado por Valentim Fernandes, entre 1505 e 1510, depois da Serra Leoa, onde começava a Terra ou Costa da Malagueta "em a qual terra ha hu ydolo universal de todas estas terras ao qual ydolo chamã TSHYNTRCHIN... pera este ydolo vem gete de longas terras como a jubileu e lhe traze cabras e gallinhas pera matar". E adiante, informa: "Aluaro Velho do Barreyro q esteve alguns oyto anos nesta terra foy cõ o dito capellã ver o CHINCHYN" (Th. Monod, A. Teixeira da Mota, R. Mauny, Description de la côte occidentale D'Afrique par Valentim Fernandes, Bissau, 1951).

Esses pretos da Guiné vieram para o Brasil e trouxeram o cerimonial depois aculturado no confuso culto sudanês. Quando os portugueses diziam "china", os guinés pronunciavam xinxim. A galinha, sacrificada ao Xinxim na primeira década do século

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