História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

VI, seria a velocidade inicial para a iguaria contemporânea que lhe conservou o nome votivo.

As sementes de abóboras, melancias, melões, "egussi" (sementes de abóbora ou melancia, na Bahia), "egúsi", pevides de melão nagô na Nigéria, nkpuogili dos Ibos, tão comuns ao gosto africano, com a mesma obstinação branca pelos chicles ruminativos, reapareciam nos velhos xinxins baianos porque nos modernos já não são empregadas. "Xinxim", "chim-chim", "chin-chin", de Manuel Querino, Darwin Brandão, Hildegardes Vianna; "ochimchim", de Sodré Vianna. "Chin-chin" é a grafia dos Ibos da Nigéria.

As sementes são vendidas nos mercados nativos, utilizadas na cozinhas e mastigadas, torradinhas, com visível deleite negro. Essas sementes de cucurbitáceas e os camarões secos são acepipes chineses desde tempo imemorial assim como na índia. O caminho conjetural seria China, Índia, África Oriental, África Ocidental. Refiro-me, prudentemente, ao camarão seco, incluído noutro alimento e não ao consumo dos crustáceos, isoladamente, assados, constituindo manjar para qualquer povo de margem piscosa, lagoas e rios salgados ou salobros. Os "brasilienses" de 1500 não estariam aguardando exemplo de tão longe para a degustação. Potiguar quer dizer comedor de camarão. Potengi, rio do camarão. Todos os africanos do Índico e do Atlântico são grandes devoradores de crustáceos, assados, quase sem sal e com muita pimenta.

Um outro elemento inseparável da culinária negra não mereceu emprego normal na Bahia: as folhas verdes dos feijões, das batatas-doces, quiabos, abóboras, mandiocas piladas para os esparregados e papas apimentadas. O brasileiro usa os bredos (amarantáceas), taioba (Colocasia antiquorum Schott, var. esculenta), a bertalha (Basella alba), a capeba (Pothomorphe peltata Miq.), jiló (Solanum ovigerum Dun.), quiabos, e não as folhas citadas, vulgares na África negra. O português era amigo secular dos esparregados, visíveis em Gil Vicente, Antônio Prestes, retratando o povo na sua alimentação normal do século XVI quando o Brasil nasceu e se povoou. Os indígenas gostavam dos vegetais cozidos e bem parcamente dos brotos, folhas, sementes esmagadas ao pilão, acompanhando as carnes assadas ou fervidas na mesma panela.

As vísceras, tutano dos ossos, miolos da cabeça, participando da alimentação brasileira, não devem aos africanos influência determinante e nem mesmo sensível. Como aos indígenas brasileiros repugnava ao africano antigo comer o cérebro das caças

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