abatidas. Para o indígena do século XVI, Jean de Lery informa que tudo devoravam no corpo do inimigo sacrificado "com exceção, porém, dos miolos, em que não tocam". Hans Staden registra diversamente: "Comem os intestinos e também a carne da cabeça; os miolos, a língua e o mais que houver são para as crianças". Era carne humana, passível da insistência mais visível dos tabus. Quanto aos miolos creio ser engano de Staden. As vísceras foram parcimoniosamente utilizadas, sempre assadas, e o cérebro jamais em qualquer peça de caça. Esse preceito os africanos possuíam. Nenhum prato baiano de origem negra inclui miolos. Nem mesmo no angu de quitandeira, chamado erradamente angu da Bahia, que abrangia quase todas as vísceras à exceção do miolo, advertia Debret, no Rio de Janeiro imperial.
O sertanejo, comumente, não gosta. Vivendo no sertão do Rio Grande do Norte e Paraíba, nas fazendas, vilas e cidades, jamais comi miolos de gado. E também provei ensopado de língua em Natal. Língua era "comida de cachorro". O Sr. Assis Iglésias, viajando o interior do Piauí, 1912-1919, via, surpreendido, atirarem fora os rins das reses como inservíveis para a grelha ou panela: "Rim, fígado e miolo - miolo principalmente - o sertanejo piauiense não come... O miolo e os rins ficaram para mim, pois já disse que o sertanejo não come miúdos". Era no Piauí das velhas "fazendas gerais", terra de pastorícia, grande mercado e reserva de gado.
"O meu boi morreu,
Que será de mim?
- Mande buscar outro, ó maninha!
Lá no Piauí!"
Por uma projeção das cidades do litoral é que os sertões foram aceitando as vísceras. Os miolos ainda encontram resistência no consumo. Os engenheiros da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, os primeiros que foram estudar os açudes, na administração Arrojado Lisboa, quase todos do Sul, admiravam-se da repulsa sertaneja no Nordeste, mesmo entre fazendeiros, às vísceras como alimentação. Entre os caçadores, as entranhas da caça eram jogadas desdenhosamente aos cães, mesmo tratando-se de veados, pacas e caititus. As tripas são invariavelmente assadas, como algumas tribos indígenas costumavam.
Tripas assadas foram manjares favoritos e comuns na Europa dos séculos XV, XVI, XVII, XVIII. Expressivo é o testemunho