História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

Galinha: covarde, moleirão, assustado. Pederasta. Mulher lasciva e fácil. "Galinha-morta", incapaz de reação. Inerte. Abúlico. "Comendo galinha", mulher de resguardo, parturiente.

Galinheiro: a mais alta galeria nos teatros, também denominada "Poleiro" e "Paraíso". Poullailler, Paradis, em França, origem do nome no Brasil. "Quem faz opinião no teatro é o "galinheiro"."

Galo: brigão, provocador, arruaceiro. Mulherengo, bordeleiro. Ter grande potência sexual. "Comendo um galo", apressado, inquieto, atarefado, ansioso. Um "galo" na testa, hematoma. "Salgar o galo", bebida matinal. Cabeça de galo, ovos cozidos com pirão. Cock-tail. "Rabo-de-galo", cachaça com vinho; cachaça, mel de abelha e canela(47) Nota do Autor.

Ganço: bebedeira, pileque, carraspana. Viver "no ganço". Está "no ganço". "Gancista." "Deu a gança", zangar-se, deblaterar, irar-se dizendo desaforos.

Garapa: solução fácil; banalidade, vulgaridade. "Foi aquela garapa". "Engarapar", enganar, iludir, persuadir, convencer. Moraes registro no seu dicionário: "Engarapar, v. at. Dar garapa. Fig. Fazer a boca doce a alguém, para o reduzir àquilo que queremos". Antônio de Moraes Silva'foi senhor de engenho em Pernambuco. (Engenho Nôvo de Muribeca, Jaboatão.)

Goiaba: proveito. Ganho desonesto. "Comendo goiaba", outrora vida de cáften e presentemente receptador de contrabandos. "Olho da goiaba", ânus. Na gíria dos ciganos em São Paulo, Minas Gerais, pelo Sul do país, "morder na guaiaba" é fazer negócio, entrar em acordo de compra, permuta ou venda.

Goiabada: solução imprevista; transação mais rendosa e fácil que se pensava. "Que tal o negócio?" "Goiabada, amigo!" Na "goiabada", tratamento carinhoso, abundante, sem previsão da finalidade. "Está na goiabada, vamos ver o que sai."

Goma: contar vantagem, autoelogio, alardear importância. Mentira, exagero, filáucia. "Vive contando uma goma danada!" Tumor no periósteo, exostoses molles. "Engomado", "nas gomas", elegante, caprichoso na indumentária. "Gomeiro", pábulo.

Grude: bolo de goma de mandioca, açúcar, leite de coco. Os grudes de Estremoz eram os mais famosos do Rio Grande do Norte. Goma líquida para colar couro, papel, fazenda. Briga, barulheira, altercação, rezinga. Namoro agarrado. Alimento. "Vamos ao grude!"

Guabiraba: "é um adjetivo que significa zangado ou irritado"(245) Nota do Autor. Estar "nas guabiradas", desconfiado. É uma mirtácea comum a todo território nacional, fruta e doce.

Jaca, jaqueira: negócio sem embaraço, pronto, rápido, lucrativo. Jaca, chapéu alto. "Jaca mole", molenga, aparvalhado, imbecil. "Conseguiu o emprego? Foi jaqueira!"

Jenipapo: mancha azul-negra nos glúteos ou na cintura, "mancha mongólica", tida como indicativa de mestiçagem. "Fidalgo de jenipapo", ironizavam com os mulatos ricos no tempo do Império.

Jerimum: o mesmo que "melancia" na linguagem popular.

Limão: temperamento azedo, constante mau humor, zangadão, irritante. Falhando o plano, errado o cálculo, "deu limão". Pormenor característico, vivacidade comunicante, simpatia envolvente, não existindo, dizem "faltar limão". "Limão de cheiro", mocinha airosa, agradável, simples. No Auto dos Cantarinhos, meados do século XVI, Antônio Prestes cita o "limão de gentileza", como elogio a uma namorada em Lisboa.

História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação - Página 507 - Thumb Visualização
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