História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

Pastel de nata: "Conhecer a força dos pastéis de nata", reconhecer e respeitar o poderio de alguém. Registro de Pereira da Costa(100) Nota do Autor. O caipira paulista diz significando castigo, lição pesada: "Conhecer o rigor da mandaçaia". A mandaçaia, Melipona anthioides Lep., é uma abelha produzindo delicioso mel e ferroando dolorosamente.

Pato: o pagante, a "vítima", crédulo, pacóvio. O "otário". Pedaço de charque correspondendo à omoplata.

Peixão: mulher bonita, de formas Opulentas. Pancadão.

Peixe: pegar peixe, cochilar. "É peixe de fulano", ser o favorito, o preferido.

Peixe caro: visita rara, ausência nas festas. "Vender o peixe caro" é apreçar demasiado o merecimento. "Vender o peixe" é argumentar em causa própria.

Peixe fresco: prostituta nova. Estreante político ou literário. Primeiros namoros. Debutante.

Peixe podre: sem valia, sem significação, desprezível. Refugo, destroço humano. Coisa inútil sob qualquer aspecto.

Pepineira: negociata, tramoia venturosa com resultados abundantes. Clima propício para determinada produção. O pepinal, pepinière, deu na França a mesma intenção satírica, de onde a tivemos. Pândega, patuscada, esbórnia. Pechincha. Compra barata.

Pepino: temperamento, gênio, propensão, tendência. "De pequenino é que se torce o pepino." Em França é ter paixão, amor ardente; avoir un pépin pour quelqu'um. Membro viril. Em Coimbra "apepinar" é ridicularizar.

Peru: assistente impertinente, indesejável, obstinado. "Peru calado ganha um cruzado." Aperuar, acompanhar jogo ou acontecimento social sem participação responsável. Namorado, porque "sabe fazer roda". Ostentação, pompa incabida. Exibicionismo. Apaixonado teimoso na perseguição.

Piaba: pequena quantia, cousa de pouca importância(249) Nota do Autor. "Na piaba", penúria. "Piabando", vivendo com recursos limitados. "Piabeiro", pescador indolente.

Pinhões: exclamativa de repulsa, protesto, desagrado: "ora, pinhões!" Corresponde ao português: "e pêras!" "Sabe o que mais? Pinhões!"

Pipocas: exclamação de desabafo: "ora pipocas!" Ora sebo!

Pirão: genérico de alimentos. "Ganhar prós pirões. Vou aos pirões". Mulher. Ao distraído, insistentemente provocado, dizia-se no Recife de 1924: "Pega o pirão, esmorecido!..."

Pitomba: pancada, pedrada, cocre, tiro, na cabeça. "Levou uma pitomba no quengo". Exclamativa: "Ora, pitombas!" "Pequenos pedaços de carne do ceará, charque, quase que perdidos provindos dos que se cortam por imprestáveis, ou para perfazer as pesadas", Pereira da Costa(100) Nota do Autor.

Ponto de bala: Não se alude ao projétil de arma de fogo mas simplesmente ao "ponto" em que a calda do açúcar refinado, com essência de fruta, atinja a densidade indispensável para o esfriamento e feitura de balas, bolas, rebuçados, vendidos em cartucho de papel. Oportunidade. O momento de agir.

Ponto de cocada: idêntico ao "ponto de bala".

Prato: genérico de alimentação, subsistência. "Só ganha pró prato".

Pura: estar na puba, isto é, estar no trinque, estar muito bem vestido e ataviado, informa Amadeu Amaral(230) Nota do Autor. Casquilhice, faceirice no trajar, segundo Valdomiro Silveira(231) Nota do Autor.

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