História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

Puxa-puxa: recadeiro, serviçal, fâmulo espontâneo nas intrigas ou correspondências de amor. Leva e traz. Namoro, para o caipira paulista.

Queijo: corpo feminino, as partes mais volumosas. "Comer queijo" é acalcanhar o calçado. "Comendo queijo de brisa", curtindo fome. "Foi queijo", valeu a pena. Facilidade. Quem come muito queijo fica sem memória. No século XVII, 1665, D. Francisco Manoel de Melo versejava:

"Sempre ouvi por regra aceita

De Galeno que haja glória

Que tira o queijo a memória

A toda gente direita".

Quitanda: biscoitos, bolo ou qualquer doce de forno, e também saúde, posição social, prestígio, para o interior de São Paulo(231) Nota do Autor.

Rapadura: "lamber a rapadura detrás dum pau", esperar indefinidamente pelo inimigo para matá-lo (Nordeste). "Entregar a rapadura", desistir de alguma empresa ou plano (São Paulo).

Roer: ter ciúmes. Roedeira, roendo, ciúmes, despeito amoroso.

Rosca: face, mais vulgarmente, o nariz. "Disse-lhe as verdades nas róseas da venta." Marido passeando ou dançando com a esposa "pão com rosca".

Sal: graça, espírito, talento. "Bom de sal", temperado convenientemente. "Sal e pimenta", cabelo grisalho.

Sebo: Exclamativa de irritação, desabafo: "Sebo! Ora sebo!" Libidinagem, obscenidade: "tirar ou fazer sebo". Rua do Sebo, zona de baixo meretrício. "Passar sebo nas canelas", evadir-se, fugir, escapar. "Metido a sebo", vaidade, embófia, presunção.

Siri: o rapaz que conduzia o lampião ou o facho iluminando a marcha dos figurantes do "Bumba-meu-boi" (Natal, RN).

Suco: essência, o principal, o superior, a excelência. É o suco!

Sururu: o saboroso molusco, Mytilus alagoensis J. Lima, ou Mytilus mundahuensis E. D., significa barulho, confusão, balbúrdia, alteração de ordem. Clitoris. Há em São Luís do Maranhão uma festa de estudantes com essa denominação.

Taioba: nádegas. Negócio inconfessável mas vantajoso. "Roendo taioba sem ninguém saber."

Tareco: biscoito de farinha de trigo, ovos, açúcar, de forma discoide, pequenino e duro. Miudezas caseiras, bugigangas e bagatelas domésticas; objetos miúdos, misturados, confusos. Cacarecos.

Tereré: é a infusão da erva-mate (Ilex paraguaiensis St. Hil.), n'água fria, sul do Mato Grosso, Paraguai, ao contrário do chimarrão que é feito com água quente, tradicional no Rio Grande do Sul e províncias vizinhas. O tereré não determina o mesmo efeito no plano da convivência e semialimento gaúcho. Daí as frases alusivas: "tereré não resolve, deixe de tereré, isto é tereré", valendo circunlóquio, inutilidade verbal, paliativo. A frase divulgou-se, depois de 1930, por todo o Brasil.

Tomates: testículos. Exclamação: "Uns tomates!"

Uva: beleza, sabor, suficiência para ser cobiçada; completa. "É uma uva!" Já era empregada em Portugal no século XVI.

Vinagre: usurário, agiota, emprestando dinheiro a juros altos, executando as penhoras sem piedade. Vinagrada, vinagreira, ação do vinagre, eram aplicados no mesmo sentido, notadamente no Recife em princípios do século XX onde Pereira da Costa registro(100) Nota do Autor.

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