É incontestável a penetração, juntamente com o comércio e os investimentos de capitais ingleses no Brasil no século passado, de padrões culturais e valores ideológicos do mundo anglo-saxônico. A receptividade cultural, senão ideológica à pressão externa inglesa, constitui fenômeno que merece ser mais amplamente estudado(12) Nota do Autor.
O presente trabalho foi uma tentativa de contribuição para o estudo do significado ideológico implícito nas imagens e conceitos interpretativos da formação e da situação brasileiras os quais, forjados embora, no exterior, encontrariam no Império do Brasil uma mentalidade elitista e europeizante, curiosamente apta a assimilá-los.
Certos valores fundamentais, implícitos na obra de Southey, o conservadorismo paternalista, a fé na superioridade da cultura europeia, senão a prevenção contra as heranças étnicas da escravidão, embora arraigados no imperialismo britânico, também se enraizariam na historiografia brasileira, de modo que, através de sua obra, podemos estudar muitos dos preconceitos dos intelectuais e dos estadistas brasileiros do século passado, com relação ao meio em que viviam. O próprio Varnhagen absorveria de um prisma nativista mais estreito os mesmos ideais contrarrevolucionários, a convicção da necessidade de um executivo centralizado, de um Estado autoritário e uma visão crítica da sociedade colonial, igualmente europeia.
As afinidades entre a ideologia imperialista dos ingleses e a dos construtores do império, embora paradoxais, não causam estranheza uma vez que a luta pela centralização do poder e pela integração nacional consumar-se-ia nos padrões de uma política intensiva da corte, de colonização interna das outras províncias, sempre sob a égide da pressão diplomática da Grã-Bretanha(13) Nota do Autor. Na Inglaterra, em reação contra excessos do liberalismo democrático, a ideologia conservadora propunha o fortalecimento do Estado, visando à coexistência pacífica de todas as classes geradas pela Revolução industrial e a reestruturação do novo império.