O fardo do homem branco. Southey, historiador do Brasil. Com um estudo dos valores ideológicos do império do comércio livre

um prolongamento forçado do antigo regime durante as duas primeiras décadas do século XIX: o governo permanecia aristocrático, inerte, sem meios administrativos ou mesmo policiais de enfrentar, ou sequer de compreender, as novas tensões sociais do seu tempo e as agitações em prol de uma reforma parlamentar.

À insegurança da ameaça de invasão externa somava-se a ameaça de uma guerra civil, de onde o aparato repressivo(2) Nota do Autor e a ideologia de reação que contribuiu decisivamente para prolongar as peculiaridades do antigo regime, de velhas instituições rurais, inadaptadas ao país, transformado pelo surto de crescimento demográfico e conturbado pela transição da economia de consumo para o capitalismo industrial. Os anos de elaboração da História do Brasil foram anos de luta em duas frentes: de um lado, a resistência heroica oposta pelos artesãos à proletarização, a organização das massas trabalhadoras; de outro, a frente enérgica de luta das novas classes empresariais contra os privilégios aristocráticos, em prol da livre competição e pela representação parlamentar. À dureza e às condições desumanas impostas pela nova organização de trabalho e produção, nas áreas industriais e nos grandes centros urbanos, acrescentava-se a miséria ainda maior dos assalariados rurais e de artesãos desempregados. Em meio ao processo de transição e mudança, imposto pelas novas classes médias, industriais, dissidentes, metodistas, irrompiam surtos de violência e revolta, as reivindicações de salários e preços "justos", a resistência contra o liberalismo econômico e a organização do radicalismo popular; emergiam, pois, o fenômeno moderno das massas e a sociedade de classes, em que os intelectuais tiveram de tomar seu lugar.

O problema fundamental que se apresentava para os intelectuais da época, era o da marginalização do indivíduo na sociedade e no mundo em que vivia. A modernização, as grandes transformações na sociedade e na vida de todo dia, a partir do século XVIII e durante as primeiras décadas do século XIX, haviam forçosamente de suscitar grande inquietação social e de propor ao pensamento os grandes problemas do homem moderno. A aurora do novo mundo industrial afigurava-se particularmente intensa e torturada. Um redemoinho de mudanças materiais agitava a vida

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