O fardo do homem branco. Southey, historiador do Brasil. Com um estudo dos valores ideológicos do império do comércio livre

um esforço inédito de afirmação de novos valores da classe trabalhadora em formação. Como um vulcão prestes a explodir, lançavam os germes de uma nova cultura inteiramente à margem da tradicional(22) Nota do Autor. Vinham de encontro aos padrões respeitáveis das classes médias e desafiavam-nos, justamente em meio à reação e ao regime repressivo dos anos de guerra e do pós-guerra. Suscitavam pânico e indignação; pareciam forças destrutivas capazes de minar os fundamentos da cultura tradicional e do Estado.

Southey lutou virulentamente contra os veículos da cultura popular dos artesãos. Estes escapavam, por sua clandestinidade, aos tradicionais meios de controle oficial, da imprensa política em geral, através de subsídios aos jornais, do suborno de jornalistas ou simplesmente da taxação sumária, como era o caso do imposto do selo ou das taxas cobradas sobre anúncios(23) Nota do Autor. A nova cultura radical, do povo, afirmava valores agressivamente contrários aos da literatura polida das classes médias. William Hazlitt, apesar de seu estilo de ensaísta sofisticado, atacava a cultura de salão e os "poetas do lago", investindo especialmente contra Southey, por causa do seu empenho em combatera liberdade de imprensa(24) Nota do Autor. Radical de classe média, queria desmascarar a cultura burguesa. William Cobbett, porta-voz espontâneo da cultura popular, voltava-se contra o esforço das associações de classe média no sentido de integrar os pobres. Em seu periódico Political Register, investia com passagens sarcásticas contra o empenho dos homens cultos em "make us' a' enlightened an fill us with' antelect!" Achava ótima a ideia de ampliar as mentes, mas sugeria que se procurasse antes encher o estômago do povo com mais pão, toucinho e cerveja. Referia-se com desprezo ao "reverendo Malthus" e aos feelosophers (sic) escoceses(25) Nota do Autor.

De onde a violência com que se procurou reprimir a imprensa "indigente", levantando-se a questão da necessidade de se oporem limites à liberdade de imprensa(26) Nota do Autor. Southey e vários intelectuais da época apoiavam firmemente estas medidas, profundamente imbuídos da convicção de que a imprensa livre representava

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