O fardo do homem branco. Southey, historiador do Brasil. Com um estudo dos valores ideológicos do império do comércio livre

pela industrialização e a nova disciplina de trabalho. Distanciava-os o espectro da revolução, da violência e da anarquia social. Em carta de 1799, Southey escrevia sugestivamente a um amigo que compreendera finalmente o risco que havia em dizer às massas: "Até aqui e basta!"(29) Nota do Autor. Apavoravam-se os homens cultos ante o novo fenômeno das massas; a nova cultura que se esboçava parecia ameaçar os valores tradicionais a que se apegavam num estado de insegurança quase mórbido. John Stuart Mill observaria que, para as novas massas, existia somente o presente(30): Nota do Autor o passado e toda tradição cultural a que se apegavam os intelectuais pareciam pois ameaçados de dissolução. Oprimidos pela comercialização da profissão; perseguidos pela exigência do grande público, a que desprezavam, pelos editores contra os quais se revoltavam e, de outro lado, pelo novo poder da imprensa popular, converteram-se em guardiões da cultura ameaçada, procurando valorizar-se, em seu isolamento, com a missão preciosa de que se investiam.

Premidos por vínculos e pressões do meio em que viviam e sobretudo pela árdua exigência do ganha-pão, e tomados no turbilhão das grandes transformações do seu tempo, tendiam os românticos a manifestar seu mal-estar através da exaltação da imaginação criadora do poeta, com o que afirmavam a originalidade do poder do artista contra as convenções mecanicistas da sociedade industrial. Voltavam-se para os recessos ocultos do inconsciente; procuravam contato com o sobrenatural, imanente na natureza; buscavam humanizar a Razão, revolucionar os moldes literários, os sentimentos dos homens e, sobretudo, encontrar novas fórmulas de comunicação. O poder criador do poeta aparece como uma revolta e simultaneamente como uma afirmação da marginalização do artista(31) Nota do Autor. Dificilmente poderiam sobreviver somente com sua pena e sua imaginação criadora. O público, os editores, a pressão e demanda dos tempos "modernos" favoreciam antes a prosa do que a poesia. A época vitoriana seria essencialmente uma época de prosa(32) Nota do Autor. A preocupação com a perda do poder criador tornava-se tema recorrente e uma preocupação característica

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