Uma vez, ao fazer seus 70 anos, amigos e admiradores de sua culminância ética e científica quiseram dedicar-lhe uma obra coletiva, testemunho de veneração e de afetuoso respeito. Planeava-se fazer-lhe uma homenagem análoga às publicações jubilares que, em outros meios, se prestam aos Mestres sem par.
Transpirou a notícia por não sei que indiscrição. Enfureceu, ultrapassando todo limite, sua modéstia agressiva e vigilante. Pegou de sua mais acerada pena, e com ela feriu a seus aturdidos e bem-intencionados ofensores. Dizia ele: "Segundo sou informado trama-se para meu próximo aniversário uma patuleia, polianteia ou coisa pior e mais ridícula, se for possível. Aos meus amigos previno que considero a tramoia como profundamente inamistosa. Não poderei manter relações com quem assim tenta desmoralizar-me."
E braviamente acrescentou e datou: "Custe o que custar. Rio, dia de Corpo de Deus, 1923."
Para atravessar todas essas defesas exteriores e chegar ao coração e à amizade de Capistrano, era pois necessário possuir muito tato, muita persistência, qualidades reais de persuasão e de sinceridade, para convencer ao desconfiado tapuia transplantado para o meio civilizado, quão vivazes e fortes os sentimentos que inspirava.
Mas, então, que maravilhosa transformação!... e quão regiamente eram pagos os esforços!...
Desaparecia o desalinho no trajar. Não mais se via a confusão dos livros empilhados pelo chão, na mesa de trabalho, por todo o quarto. Aclarava-se e ampliava-se este. Todo o interesse ia concentrar-se na irradiação de luz mental que emanava da fronte larga desse beneditino das letras, artista e pensador.
E não mais cessava o encanto, tal a ciência omnimoda, cuja vastidão nem sequer impressionava, tão natural