parecia nessa enciclopédia viva. E, sucessivamente, com proficiência igual, ao Iéu das ideias, abordava os mais desencontrados assuntos: finanças, escavações na Palestina, problemas linguísticos, pontos obscuros de velhas crônicas, crítica literária, as últimas revistas estrangeiras.
CULTURA INVULGAR
Conhecia e trabalhava sobre textos espanhóis, latinos, alemães, holandeses, italianos, ingleses. Tudo em sua memória, catalogado e no devido lugar, acudia ao mais leve aceno. Sobre qualquer ponto respondia precisa e minuciosamente, e sempre negando conhecer o caso.
Sua cultura resumia bibliotecas inteiras, a serviço da inteligência mais aguda, mais informada e de maior equilíbrio que tenha existido. Não tinha limites dogmáticos. Tanto lhe mereciam a socializante Nation de Nova York ou o avançadíssimo Manchester Guardian quanto as revistas mais conservadoras; igual peso a Suma Teológica, de São Thomaz de Aquino e o Catecismo Positivista. De todos, uma só coisa exigia: ideias e sinceridade nas convicções.
Sem partilhá-los, compreendia todos os dissídios. No exame que porventura instituísse, analisava-os intrinsecamente, explanando porque adotava certo parecer e por que combatia outros, mas, ao ajuizar trabalho de que divergisse, buscava colocar-se no ponto de vista de quem o fizera.
Curioso seu modo de escrever e de falar. Suprimia todas as demasias, todas as inutilidades. Chegava a ser elíptico e a eliminar todas as fases intermediárias entre premissas e conclusões. De um crítico amigo ouviu um dia que sua prosa era telegráfica. Só iniciados o poderiam