Voltava Martim mortalmente ferido. Foi Capistrano dos primeiros a vê-lo, e saiu desolado, prevendo o próximo desenlace e a perda do amigo querido. Poucos dias, a bem dizer, durou mais. Mas, eutanásia antiga, misericordiosa e amorável, harmoniosa e pronta, a morte lhe conferiu homenagens raras. Nenhum crepúsculo. Quase nulo sofrimento. Integridade plena da lúcida mentalidade. Nenhum desses hediondos suplícios que deformam as linhas, e à dor moral acrescentam o horror da repulsão física; respeitou-lhe até a suavidade e energia viril da admirável cabeça andradina.
Prevenido, Capistrano foi levado para junto do corpo, tão belo e sereno na majestade augusta do leito mortuário.
Naquele momento, conto que o pesar havia transmudado ao sobrevivente. Sentia-se velho e alquebrado, pela primeira vez, quiçá, esse nobre exemplar humano, que, dali a poucas semanas, moribundo também, confessaria aos amigos grupados em torno de si: "Nunca pensei que eu pudesse morrer."
Para Capistrano, a amizade era uma religião, e, como toda religião, operante e comunicativa.
Não lhe bastava ser amigo. Só querendo e prezando a gente digna e boa, não descansava enquanto não reunisse e pusesse em contato aqueles de seus afeiçoados que se não conheciam. Assim, por verdadeiro contágio, ia