Valeu-lhe esse estranho poder de sedução a que era impossível resistir, e que do mais indiferente fazia, após alguns instantes de palestra com o cintilante causeur, um admirador, não raro um amigo.
Tinha viajado muito e sabia observar. Sua memória era poderosa, inesgotável a veia de leve humorismo, pinturesca sua narrativa. Movido por crenças arraigadas, possuía o dom de fazer prosélitos. A cada um, falava a língua adequada. Convencia, pela profundeza e sinceridade das próprias convicções. Nenhuma liga de considerações pessoais, subalternas, minguava o quilate do metal precioso de sua dedicação ao Brasil. Pelo exemplo, conquistava dedicações.
Aos que penetravam mais longe em sua intimidade, impressionavam a feição carinhosa de seu trato, a meiguice real, intrínseca desse colosso de voz por vezes rugidora, a ingenuidade de expressões e de certas fases psíquicas, que um amigo seguro e leal, Assis Brasil, com felicidade aproximou da graça infantil.
Mais difícil, entretanto, era merecer-lhe a confiança completa, essa situação em que as almas se revelam desnudas e em que conversar é pensar em voz alta.
A Rio Branco chocava frequentemente a loquacidade incontida de certos interlocutores. Em alguns, mesmo de valor, notava a excessiva garrulice. O brasileiro havia desaprendido de ouvir e calar, dizia ele, c, não raro, ao êxito do dito agudo sacrificava interesses de maior monta.
Por isso, podiam-se contar nos dedos das mãos ambas, e talvez fosse exagerado o cômputo, aqueles que tinham a honra de conhecer o pensamento completo do grande chanceler.
Fosse qual fosse, porém, o grau de relações que o ligavam ao ministro, o ouvinte seduzido, deslumbrado e respeitoso, tornava-se colaborador. Chama sempre acesa