único critério a seguir é colocar-se no ponto de vista do autor estudado e analisar como utilizou suas ideias, suas convicções, seus processos, na obra que produziu.
Se aplicarmos a regra ao livro de Tobias Monteiro, manda a simples honestidade mental reconhecer que nos achamos diante de um trabalho digno de admiração, respeito e louvor.
As silhuetas que traça têm vida própria. Movem-se e agem naturalmente com seus defeitos e seus méritos. Vê-se e sente-se que não são grandes personagens dentro no protocolo, retratos convencionais que o oficialismo fabricou, com solenes e hieráticas roupagens de aparato, efígies mentirosas e adrede feitas para criar uma lenda favorecida. São pobres criaturas humanas com seus sofrimentos e suas falhas, vícios e quiçá crimes, a fingirem que guiam os acontecimentos que, porém, os esmagam.
A infeliz existência de um d. João VI com seu horror à higiene, seu pavor incoercível, seu abandono sentimental, sempre só e ameaçado pela mulher conspiradora e odienta, parece ressaltar com maior tristeza no seu trejeito trágico e ridículo.
Carlota Joaquina, mulher pelo sexo e homem pelo temperamento, pelas qualidades de comando e pelos desvios morais, surge da massa de novos informes colhidos pelo autor menos desabonada do que a pintaram detratores sistemáticos. Há, em história, dessas reputações boas ou más criadas unilateralmente, ou porque o acusado nunca pretendeu defender-se, ou porque a figura exaltada não permitiu fossem ouvidos os conceitos divergentes. Da infanta espanhola, rainha de Portugal, se pode dizer que exemplifica tal tendência. O que se diz dela provém, quase só, de uma literatura de panfletos em período agitadíssimo e de paixões soltas. Até que ponto verdadeira será a noção corrente? Provavelmente, nem santa, nem