do estreitamento do horizonte da alma; o olvido dos princípios éticos, diretores supremos de quem se lembre, como o poeta, que o homem
"est un ange déchu, qui se souvient dez cieux".
Comte, salvo erro, notava que, com a complexidade crescente e a amplitude cada vez maior dos conhecimentos humanos, rareavam de mais em mais as inteligências capazes de abranger a totalidade desses. Talvez, dizia, viesse ele a ser o último filósofo que se pudesse basear no conjunto das cousas sabidas de seu tempo.
Profundamente exato o reparo. Nem se aplica somente às cogitações mais altas: vai descendo de degrau em degrau, e hoje é regra dominante na especialização de mais a mais intensa do ensino profissional. Mesmo nas grandes províncias características das ciências, já o campo a explorar é tão vasto e profundo, que ninguém o pode abarcar por completo. Há especialistas de estrelas ou da lua; de acústica ou de eletricidade; de gazes raros ou de constituição da matéria; nervos ou de microbiologia. Cada qual explora seu cantinho localizado e preciso; quase separado do complexo da ciência correlata, em um meio onde se multiplicam os compartimentos estanques.
Tem-se a impressão de um poço em perfuração: cada vez mais fundo, mas com horizonte cada vez mais restrito. Consequência: escassearem as ideias gerais, por falta de aprehensão dos liames entre os fenômenos.
Escapam a tal abastardamento intelectual raras e excepcionais mentalidades, de quilate absolutamente fora do comum.
Corre a cultura geral o grave risco de se tornar sempre mais sabedora do detalhe sem se poder alçar a níveis mais altos de conexão fenomenal. Materializam-se os conceitos, e perdem-se de vista as causas motoras, os impulsos primeiros. O fenômeno, isto é, a aparência, domina. O