História das explorações científicas no Brasil

Mas é bem possível que antes, naquelas folganças de que fala o escrivão, a índia formosa "que às mulheres de Europa envergonhara por não terem as suas feições tão graciosas" e o luso afoito já se tivessem unido. Porque daqueles mil e tantos homens só os frades e o capitão-mor teriam olhos castos para as índias nuas: os religiosos — por obediência a um voto sagrado; o Capitão, mais que pela eminência do seu cargo, pela debilidade provocada por antigos e pertinazes acessos de quartã e que, mau grado seu, o faziam desmerecer desse avô Fernão Cabral, "metedor d'alvoroços entre moças de pandeiro e soalheiro e dos galantes dado por espelho neste mundo".

Americo Vespucci e Diaz de Solis foram menos felizes em seus contatos com os índios: nem os Potiguaras, nem os Charruas eram a "gente boa e de bela simplicidade" que Caminha observara, e que os nossos românticos de meados do século passado quiseram generalizar.

Já por mais de uma vez repetimos que não cabem nestas páginas as observações dos cronistas que, aliás, no domínio da etnografia, são muito mais precisos que para a zoologia ou a botânica. Ao homo homini lupus do brocardo latino poderíamos acrescentar que desde sempre o homem tem sido (e continua a ser) a maior sedução para os estudos humanos, pois apesar da máxima de Platão das incessantes indagações feitas em mil e um setores, permanece ele "esse desconhecido", como bem o define Carrel.

Na fuga de Orellana, que ele soube cavilosamente transformar em epopeia, as principais referências do seu cronista são para esses pagãos que habitavam nas margens e ilhas do grande rio que os levava para o oceano, desde esses Encabelados, sobre os quais tão dilatadamente discorre Carvajal, até à "boa terra e senhorio das Amazonas", da qual guardou perene recordação na cicatriz de um flechaço.

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