a compasso e esquadro as dimensões e os ângulos; faleciam-lhe também a compleição científica e a profundeza de Martius para o estudo de sua estrutura fisiológica. Sem a disciplina mental de um naturalista, ele deixou, todavia, em suas obras o cunho de um observador perspicaz dos fenômenos da vida de relação das tribos selvagens".
Do fruto das suas observações pessoais distinguiu ele em nossos índios dois tipos antropológicos: o tipo "abaúna", primitivo, constituído por uma raça "cor de cobre tirando para o escuro (cor de chocolate), estatura ordinariamente acima da mediana, cabelos sempre duros, o malar e a órbita salientes; e o tipo abajú, formado por duas raças mestiças, de cor amarela, tirando para a de canela, estatura mediana e, às vezes, abaixo disso, cabelos muitas vezes finos e anelados, menos pronunciadas as saliências das órbitas e do malar, pés e mãos de uma delicadeza que faria o desespero dos mais elegantes da raça branca".
Que melhor crítica podia almejar esse antropólogo amador, do que o juízo feito meio século mais tarde por um Roquette Pinto: "Apesar de pouco preciso em relação às minúcias, o autor do Selvagem apanhou com acerto modalidades morfológicas dos índios do Brasil. Ao contrário do que me parecera até 1909, tenho podido observar notáveis especializações nos tipos brasileiros; essas variantes, devo dizê-lo, ajustam-se bem às que foram separadas pelas observações de Magalhães, mau grado o empirismo com que as realizou".
No domínio meramente etnológico são preciosas as fábulas por ele recolhidas e que vem enriquecer o nosso folclore, dando-lhes uma feição literária que as faz ler ainda hoje com facilidade e deleite (9)Nota do Autor