Se pelo lado do mar as nossas lindes vão sendo bem determinadas pelos navegantes para esse fim expressamente expedidos, tanto que nos cartógrafos do século XVI as encontramos já delineadas com pasmosa fidelidade, a fronteira seca ficava apenas sabida e determinada por aquele tratado que em 7 de junho de 1494, em nome dos seus soberanos, firmavam de um lado Dom Henrique Henriquez, Dom Guttierre de Cardenas e o Dr. Rodrigo Maldonado e do outro Rui e Dom João de Sousa e Aires de Almadana, jamais demarcada.
A sede do ouro, a falta de braços para as culturas que se iniciavam na terra moça e fertilíssima, o sonho de aventuras ou o desejo de posse e liberdade dos que, entre os homens do seu país natal só encontravam desilusões e dissabores, tais foram os múltiplos fatores que arrojaram para o oeste, descendo os rios e varando campos e florestas, os primeiros povoadores. Muito de propósito dizemos "descendo rios", porque o Amazonas, o rio cheio de encantos e seduções, que ainda hoje enfeitiça cientistas e aventureiros, aparece desde o seu início como uma preocupação quase constante das metrópoles, que o procuram descobrir e explorar. É ele, portanto, um caso à parte, esmagando na sua desmedida grandeza a pequenez do homem civilizado, tesouro que ainda permanece quase intacto, pelo desprezo dos conselhos com tanta previdência e sabedoria já expostos pelo padre Acuña desde 1641(5)Nota do Autor como pela miragem falaz das indústrias extrativas e pela impotência do homem para dominar a natureza hostil.