No trabalho que apresento aqui, de autoria do Dr. Gustavo Dodt, sobre os rios Parnaíba e Gurupi, a parte mais curiosa é justamente a referente à vida dos "regatões", aos costumes, usanças e lendas dos índios desses sertões, ao folclore. Vê-se bem que uma alma de folclorista vibrava no corpo do velho engenheiro alemão. Daí sua paixão pelos objetos de arte sertaneja e indígena, armas, utensílios, cerâmica. Reuniu grande coleção, que cuidava com desvelo nos últimos anos de sua vida, em seu retiro de Blumenau, e que legou ao seu amigo, Dr. Hugo Gemch.
Faleceu, após longos e ásperos anos de serviço público pelo interior, em grande pobreza. Era duma honestidade pessoal agressiva em matéria de dinheiros da nação, declarou-me uma feita o Dr. Euclides Barroso, que foi seu auxiliar e, depois, diretor geral dos Telégrafos. Corroborou esse testemunho o senador Antonino Freire, que o conheceu de perto e a quem devo um relatório autógrafo seu ao governo piauiense sobre a instalação duma colônia agrícola. Não possuía outros bens além do pequenino prédio, ainda hoje existente e quase arruinado, que habitava em Blumenau. Roupa, livros, instrumentos científicos, mobilia. Eis a verba do seu testamento referente a mim : "A meu neto Gustavo, o anel de sinete, que usei sempre e que se acha há séculos na família." Um aro grosso de ouro muito polido e gasto pelo uso, com uma cornalina oval em que se vê, gravada admiravelmente, uma cabeça de mulher à antiga. Maior riqueza deixou-me no seu velho e puro sangue germânico com o amor dos estudos