cadeiras era a cartesiana a ponto do Seminário se converter em ninho de ideias liberais e adotar como evangelho político a doutrina dos filósofos do século XVIII. Mais que as ciências eclesiásticas eram divulgados os episódios da Revolução francesa, partindo daquele núcleo intelectual o gosto pelas ideias subversivas, cujos adeptos passaram a organizar academias secretas..." Por decreto da Regência de 1832 o Seminário ficou sendo o colégio preparatório do curso jurídico. O decreto criou novas cadeiras para completar as matérias dos exames preparatórios... O estudo das ciências em elevado grau no Seminário era tradicional. O seu fundador Dom Azevedo Coutinho era um grande sábio, um grande patriota e um grande bispo. Em carta a Dom João VI confessava que instituira o Seminário "para instrução da mocidado em todos os principais ramos da literatura própria não só de um eclesiástico, mas também de um cidadão que se propõe a servir ao Estado. (idem).
Ideias de Tavares Bastos — Comecemos pelo interesse fundamental dos povos modernos à instrução. Escusado fora discutir os obstáculos que a centralização tem oposto às Provincias: graus literários, cadeiras de ensino secundário, penas para sanção de regulamentos etc. Sob o ponto do vista da instrução elementar o nosso povo não entrou ainda na órbita do mundo civilizado. É o que atesta a frequência das escolas. Considerável apenas na população de origem germânica de São Leopoldo (Rio Grande do Sul), Dom Francisco (Santa Catarina) e Petrópolis (Rio de Janeiro) essa frequência mal atinge a média de um aluno para 90 habitantes em todo o Império. Compare-se este sinistro algarismo com a do alguns Estados da União Americana onde a média é de um para sete; nem se esqueça que na própria Capital do Império, há apenas um aluno para 42 habitantes; das 20 Províncias há sete, onde a proporção é superior a um por cem, e há mesmo uma (Piauí) onde excede a um por 200. A mais rica e mais densamente povoada das nossas Províncias, Rio de Janeiro, onde mal se conta um aluno para cem habitantes, acha-se abaixo de uma ilha de negros, a Jamaica, que conta um por 13.
Liberdade do ensino particular... Seja livre o ensino: não há mais abominável forma de despotismo do que o de governos nulos que, sem cooperarem seriamente para o progresso das luzes, embaraçam os cidadãos que empreendem esta obra evangélica... Não basta permitir a todos, sem exceção alguma, e sem exigência também alguma, o ensinar... Não aconselhemos às Províncias a abolição somente dos regulamentos vexadores do ensino particular de qualquer grau, fácil cumprimento de um dever intuitivo; recomendemos-lhes, com a mais viva instância, que tenham providência, patriotismo e coragem para se imporem de bom grado sacrifícios consideráveis únicos eficazes, a bem do rápido desenvolvimento da instrução.
Obrigatoriedade. Não pode deixar de ser obrigatório o ensino onde existe escola: nada mais justo que coagir, por meio de penas adequadas, os pais e tutores negligentes, e sobretudo os que se obstinem em afastar os filhos e pupilos dos templos da infância. Tão legítima, como é legítimo o pátrio poder, o qual não envolve certamente o direito desumano de roubar ao filho o alimento do espírito, o ensino obrigatório é às vezes único meio de mover pais e tutores remissos ao cumprimento de