Tratado descritivo do Brasil em 1587

CAPÍTULO III: Em que se declara como se edificou a cidade do Salvador.



Como Thomé de Sousa acabou de desembarcar a gente d'armada e a assentou na Vila Velha, mandou descobrir a baía, e que lhe buscassem mais para dentro alguma abrigada melhor que a em que estava a armada, para a tirarem daquele porto da Vila Velha, onde não estava segura, por ser muito desabrigada; e por se achar logo o porto e ancoradouro, que agora está defronte da cidade, mandou passar a frota para lá por ser muito limpo e abrigado; e como teve a armada segura mandou descobrir a terra bem, e achou que defronte do mesmo porto era melhor sítio que por ali havia para edificar a cidade, e por respeito do porto assentou que não convinha fortificar-se no porto de Vila Velha, por defronte deste porto estar uma grande fonte bem à borda da água que servia para aguada dos navios e serviço da cidade, o que pareceu bem a todas as pessoas do conselho que nisso assinaram. E tomada esta resolução se pôs em ordem para este edifício, fazendo primeiro uma cerca muito forte de pau a pique, para os trabalhadores e soldados poderem estar seguros do gentio. Como foi acabada, arrumou a cidade dela para dentro, arruando-a por boa ordem com as casas cobertas de palma ao modo do gentio, em as quais por entretanto se agasalharam os mancebos e soldados que vieram na armada. E como todos foram agasalhados, ordenou de cercar esta cidade de muros de taipa grossa, o que fez com muita brevidade, com dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra, em cada um deles assentou muito formosa artilharia que para isso levava,