CAPÍTULO VIII: Em que se declara o sítio da cidade, da Sé por diante.
A Sé da cidade do Salvador está situada com o rosto sobre o mar da Bahia, defronte do ancoradouro das naus, com um taboleiro defronte da porta principal, bem a pique sobre o desembarcadouro, donde tem grande vista.
A igreja é de três naves, de honesta grandeza, alta e bem assombrada, a qual tem cinco capelas muito bem feitas e ornamentadas, e dois altares nas ombreiras da capela-mor. Está esta Sé em redondo cercada de terreiro, mas não está acabada da torre dos sinos e da do relógio, o que lhe falta, e outras oficinas muito necessárias, por ser muito pobre e não ter para fábrica mais do que cem mil réis para cada ano, e estes muito mal pagos. Serve-se nesta igreja o culto divino com cinco dignidades, seis cônegos, dois meios cônegos, quatro capelães, um cura e coadjutor, quatro moços de coro e mestre da capela, e muitos destes ministros não são sacerdotes; e ainda que são tão poucos, fazem-se nela os ofícios divinos com muita solenidade, o que custa ao bispo um grande pedaço da sua casa; por contentar os sacerdotes que prestam para isso, com lhe dar a cada um, um tanto com que queiram servir de cônegos e dignidades, do que os clérigos fogem, por não ter cada cônego mais de 30 mil réis, e as dignidades a 35, tirado o deão que tem 40 mil réis, o que lhes não basta para se vestirem. Pelo que querem antes ser capelães da Misericórdia ou dos engenhos; onde tem de partido 60 mil réis, casas em que vivam e de comer: e nestes lugares rendem-lhe suas ordens e pé de altar