Tratado descritivo do Brasil em 1587

levava; no que passou grandes trabalhos pela pouca experiência e informação que se até então tinha de como a costa corria, e do curso dos ventos com que se navegava. E recolhendo-se Gonçalo Coelho com perda de dois navios, com as informações que pôde alcançar, as veio dar a El-Rei D. João o III, que já neste tempo reinava, o qual logo ordenou outra armada de caravelas que mandou a estas conquistas, a qual entregou a Christovão Jacques, fidalgo da sua casa que foi por capitão-mor, o qual foi continuando no descobrimento desta costa, e trabalhou um bom pedaço sobre aclarar a navegação dela, e plantou em muitas partes padrões que para isso levava.

Contestando com a obrigação do seu regimento, e andando correndo a costa foi dar com a boca da Bahia, a que pôs o nome de Todos os Santos, pela qual entrou dentro, e andou especulando por ela todos os seus recôncavos, em um dos quais, a que chamam o rio do Paraguaçu, achou duas naus francesas que estavam ancoradas resgatando com o gentio, com as quais se pôs as bombardas, e as meteu no fundo; com o que se satisfez, e recolheu-se para o reino, onde deu suas informações a S. A., que com elas, e com as primeiras e outras que lhe tinha dado Pedro Lopes de Sousa, que por esta costa também tinha andado com outra armada, ordenou de fazer povoar esta província, e repartir a terra dela por capitães e pessoas que se ofereceram a meter nisso todo o cabedal de suas fazendas, do que faremos particular menção em seu lugar.