Viagem pelo Amazonas e rio Negro

indignação que, quinze anos mais tarde, se desencadeou sobre o trabalho de Darwin. Como ilustração de qual era o estado dos mais altos espíritos a esse tempo, cumpre notar que um homem tão eminente, qual sir John Herschel(9), Nota do Prefaciador numa reunião de sábios, em Londres, falou com veemência contra o referido livro de Chambers, por defender este uma tão grande heresia científica, isto é, a teoria do desenvolvimento das espécies.

Bem me lembro da sensação causada pelo aparecimento dos Vestiges e do ardoroso prazer com que li essa obra. Embora verificasse que Chambers realmente não oferecia nenhuma explanação do Processo da transformação das espécies, não obstante a perspectiva de que a mudança se efetuava, não através de qualquer meio imaginável, mas de acordo coes leis conhecidas e métodos normais de reprodução, considerei o mencionado livro como perfeitamente satisfatório e como marcando o primeiro passo em direção a uma teoria mais completa e explicativa. Causamos hoje o maior espanto o ter sido esse primeiro passo, como sabemos, considerado como uma heresia, a qual era quase universalmente condenada, por oposta aos ensinamentos, quer da ciência, quer da religião.

Os Vestiges de Chambers tiveram um sucesso tão auspicioso, quanto, mais tarde, a Origin of specie, de Darwin. Quatro edições daquele livro foram esgotadas nos primeiros sete meses e, por volta de 1860, havia ele chegado à décima-primeira tiragem, de sorte que cerca de 24 mil exemplares tinham sido já vendidos. É certo que aquela obra prestou um grande serviço, qual o de familiarizar os seus numerosos leitores com a ideia da evolução, preparando-os, assim, para e teoria mais completa e eficiente, apresentada depois por Darwin.