Viagem pelo distrito dos diamantes e pelo litoral do Brasil

Dentre os naturalistas que nos visitaram, Saint-Hilaire pode ser considerado o mais amigo do Brasil, o melhor observador e o coração mais bondoso que nos soube ver.

Viajando acompanhado por pessoas rudes, às quais se afeiçoara com facilidade, muito sofreu pelo mau caráter ou pela ignorância de seus auxiliares de jornada.

Recebido aqui com cavalheirismo, ali com indiferentismo, acolá com grosseria, soube o grande botânico portar-se perfeitamente de acordo com as conveniências do momento e em seus escritos consignar o louvor aos que fizeram jus a isso e a censura, sempre branda e desculposa, aos que o receberam mal ou não o quiseram receber.

O modo pelo qual se preocupava com os destinos do Brasil, as sugestões que fazia para a remoção dos males que nos assolavam, bem diziam do caráter gaulês de um homem dedicado à "ciência amável". As saudades que sentia de sua pátria, a insistência com que se referia à sua velha progenitora e ao sobrinho, que deixara em França, significavam o seu coração sensível e amoldavam-no às nossas gentes do interior, que ele tanto apreciava pelas condições de vida que levavam.

Imparcial nos seus julgamentos, a ponto de comparar localidades e costumes de sua e de nossa pátria, com louvores ao que aqui vira, Saint-Hilaire é-nos um consolo, sempre presente à memória, quando turistas que nos veem do alto do Corcovado ou de sobre os tapetes dos cassinos, nos insultam através das crônicas que escrevem à guisa de observadores de povos, natureza e costumes, que não viram e não sentiram, porque o Brasil para ser visto e compreendido exige sacrifícios e capacidades que só um Saint-Hilaire, um Martius, um Bonpland e outros dessa fibra foram capazes e possuidores.

Nos numerosos escritos deixados por Saint-Hilaire perpassa, além do mais, um perfeito espírito de desprendimento pessoal aliado ao amor à ciência, preocupando-se sempre em coligir material e em tomar notas a respeito do mesmo, na natureza, tudo para o Museum, sem vaidade nem interesse venal.

Botânico, não perdia oportunidade em apanhar insetos, aves, quadrupedes e peixes "para tornar menos sensível" a falta que

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