CARTA A CASSIANO RICARDO(*) Nota do Autor
Meu caro Cassiano Ricardo.
Não tentarei analisar em pormenores suas interessantes considerações sobre o homem cordial publicadas no nº 2 de Colégio. Creio que nunca chegaríamos a entendimento perfeito acerca de alguns aspectos tratados e vejo que será inútil esmiuçar todos os pontos de sua réplica. Confesso sem vergonha, e também sem vanglória, que não me sinto muito à vontade em esgrimas literárias: sou capaz de largá-las ao meio do caminho por impontualidade, por preguiça ou por inépcia.
Além disso acredito que nossa divergência se reduz em parte a uma questão de palavra. Devo dizer que não me agarro com unhas e dentes à expressão cordial, que mereceu suas objeções. Se dela me apropriei foi na falta de melhor. É certo, entretanto, que não me convenceram seus argumentos em contrário, quando opõe bondade a cordialidade. Não vejo como fugir, com efeito, ao sentido ético associado à palavra bondade. Você mesmo não o conseguirá, apesar de toda a sua admirável destreza. Ou conseguirá, se assim se pode dizer, redefinindo e imprecisando o conceito, de um modo que ouso julgar ilegítimo. Assim, onde v. procura esclarecer melhor suas afirmações, seu artigo diz o seguinte: "Nem falei em bondade como excluindo inimizade, mas como antítese de ódio". Ora, bondade, de fato, não exclui inimizade, mas tem como