Raízes do Brasil

antítese a maldade e não o ódio. E este, por sua vez, pode contrapor-se ao amor, não à bondade. Mas justamente neste ponto será preciso ultrapassarem-se as fronteiras da ética.

E v. me perdoará se também não confio muito nessa "técnica da bondade", nessa "bondade empregada com sabedoria e até mesmo com um certo maquiavelismo...(•) Nota do Autor a que v. se refere em suas considerações, depois de mencioná-la em seu livro. Não me parece indispensável separar, como você, o maquiavelismo "frio e agudo" de outro, porventura "cheio de calor humano". Bondade maquiavélica é maquiavelismo — ou é fraqueza —, não é bondade.

Agora peço licença para voltar um pouco ao homem cordial. Quando na primeira edição de meu livro recorri à expressão, já empregada, antes de mim, pelo nosso amigo Ribeiro Couto, estava implícito nas minhas palavras tudo quanto a respeito seria dito na nota da segunda edição que deu motivo ao seu artigo. Aliás você mesmo lembra, agora, como na primeira edição se dava o homem cordial como o contrário de polido. Quer dizer que não se atribuía à palavra o sentido que adquire em fechos de cartas amáveis ou agressivas. Mas na mesma primeira edição eu também já tratava de apresentar as manifestações de polidez como "espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no homem cordial". Isso significa que, antes de saber o que exprime exatamente uma palavra usada em determinado contexto, conviria, em qualquer caso, atender à sua exata conotação. Quando escrevi a palavra cordial, entendia-a no seu verdadeiro sentido. Você a interpreta na sua acepção fingida.

Não precisarei recorrer ao dicionário para lembrar que essa palavra — cordial —, em seu verdadeiro sentido, e não apenas no sentido etimológico, como v. quer presumir, se relaciona a coração e exprime justamente o que eu pretendi dizer. Como

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