Rodrigues Alves - Tomo 1

Apogeu e declínio do presidencialismo

Ricos são os anais da vida acadêmica do jovem de Guaratinguetá, tanto nos estudos como na ação política. Tão forte era sua vocação para esta que, ao que tudo indica, nunca sentiu qualquer inclinação para a literatura. Entre os destacados estudantes de direito daquela geração, essa abstenção, quanto aos ensaios literários, era pouco comum. Para não falar em Castro Alves, lembremos que Nabuco e Rui Barbosa ensaiaram-se na poesia e Paranhos, estudante, já se iniciava na história.

Até mesmo a oratória e o jornalismo Rodrigues Alves, que era eloquente na tribuna e exímio na imprensa, os praticou sem a preocupação estética de um Nabuco, de um Rui ou de um Quintino.

Quanto ao jornalismo político ele o exerceu do início ao fim de sua carreira, de estudante a presidente. Contudo, nele, o jornalista, o orador e o ocasional escritor eram sempre aspectos do político visceral que era ele.

Embora recolhesse, pela existência afora, em forma de anotações ou de diários, fatos, opiniões e julgamentos, cujo acesso constitui legado provavelmente único entre os provenientes dos líderes do seu tempo, não lhe ocorreu nunca, como a Campos Sales, compor um livro de lição e experiência. Seus cadernos manuscritos, pouco extensos embora opulentos, todos utilizados no presente estudo, não parecem elementos acumulados para o preparo de um volume posterior. Pelo menos, nunca de um livro a ser escrito por ele próprio. Seu intuito, ao redigi-los — coisa que fez até com sacrifício durante a grave crise de saúde que o atingiu no decurso da sua terceira presidência de São Paulo — poderia no máximo ter sido a de preservar lembranças e explicar atitudes para os filhos ou (quem sabe?) para algum biógrafo futuro. O mais provável, porém, é que fossem apenas fontes a que pudesse recorrer, na defesa ou no ataque, em vista do desenvolvimento, sempre imprevisível, de uma carreira política como a sua, que se entretecia com a própria vida.

Vivendo em um tempo e em um país onde a arquivologia era a bem dizer inexistente, Rodrigues Alves documentava-se de forma íntima e subjetiva, acumulando impressões, conversas,

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