que demonstrou ter no fim da vida, quando acolheu o falar da sua gente e o empregou nos seus memoráveis escritos e orações.
Hoje, se pudesse voltar ao assunto, não encontraria mais nenhuma dificuldade; bastaria utilizar-se do Vocabulario analogico de Firmino Costa, aparecido em 1923, que, ao tratar da matéria "cores e sinais de cavalos e bois", estende-se das p. 21-27, do seu livro, pondo em ordem tudo quanto coligiu na linguagem dos dois povos. Os óbices que Ruy Barbosa deparou não mais existirão, caso se queira aproveitar também o que se emprega no Brasil.
Em qualquer setor de atividade isto ocorre. Não é possível, somente com o vocabulário que herdasses dos portugueses, descrever coisas da nossa vida e representar exatamente um mundo diferente de fatos, plantas e animais de um outro meio e clima, utilizando somente a linguagem empregada pelos clássicos.
Talvez que, com esforço, tal se obtenha. Castro Lopes deu-se ao trabalho de escrever em latim fenômenos da vida moderna, com a língua dos poetas romanos, e, aproveitando-se dos versos de Ovídio, descreveu uma locomotiva em marcha. Tal curiosidade, evidentemente, é um mero trabalho de paciência onde tudo falta, a começar pela indispensável espontaneidade que a língua viva imprime.
No trabalho que se segue chamo a atenção, sobretudo, para esses pontos. A linguagem que os brasileiros falam não se encontra convenientemente dicionarizada. Assim julgo ter demonstrado pela série enorme de glossários e léxicos brasileiros de plantas, animais e os relativos ao falar da nossa gente e de que trato adiante. Como, porém, ainda não se fez um trabalho de conjunto, os nossos escritores, sobretudo nos últimos tempos, procuram preencher a lacuna, juntando elucidários e glossários às obras que publicam, e isso a fim de que possam ser entendidos, já que seria quasi inútil consultar os deficientíssimos dicionários de que os brasileiros dispõem.