Continuamos, no entanto, a proclamar a riqueza da língua portuguesa. De fato é um aparelhamento altamente expressivo e belo; basta sua origem latina. Porém, o mundo novo que aqui se criou e os fatos que suscitou foram traduzidos pelo nosso povo, que para isso se utilizou de um vocabulário estranho, pois já encontrou tudo batizado pelos índios que aqui viviam e crismado pelos negros que logo depois trouxemos.
Certa vez li, no Jornal do Comercio, de 21 de março de 1937, magnífica aula inaugural de Clovis Monteiro, na qual o ilustre filólogo afirmava que: "No interior, por mais longínqua que seja a localidade, há ainda, além da escola, o vigário, o promotor público, o funcionário municipal, os que sabem ler e influem na linguagem oral pelas conversas e através da leitura dos jornais com as notícias das capitais. Assim, a língua portuguesa não se desprendeu das raízes tradicionais no solo americano".
No meu modo de entender, o Brasil, em grande parte, vive ainda isolado e dividido em compartimentos estanques. Também assim pensava antes de percorrê-lo quase todo. Fiquei, no entanto, verdadeiramente surpreendido quando, em 1912, ao atravessar grande parte da Bahia, Pernambuco, Piauí, Goiás, descobri um Brasil novo, esquecido e impermeabilizado para muitos dos benefícios criados pela civilização.
Em regiões onde moravam milhões de compatriotas nossos, o precário serviço postal de que o Brasil dispõe, nem de longe beneficiava a esquecida gente.
Dei meu depoimento por escrito em 1916, no trabalho que publiquei quando, expondo o papel que exerce a imprensa diária na difusão de ideias e conhecimentos, mostrei que não podia ser aproveitada pela nossa população longínqua, e isso porque os coronéis e tuxauas distantes, segundo me confessaram, não podiam assinar jornais do Rio, porque não lhes chegavam às mãos. Não se imagina quanto a deficiência do serviço postal retarda o nosso progresso.