Estudos da língua nacional

Depois, este assunto se impôs de tal modo, que para os homens públicos brasileiros se criou um ambiente de pânico e, durante muito tempo, constituiu um padrão de extraordinária cultura saber colocar bem os pronomes.

Só com isto, o indivíduo era julgado culto e civilizado: podia fazer abstração de tudo mais, de pouco valia o conhecimento de idiomas modernos, matemática, e ter cultura geral.

Alcancei o tempo em que era imprescindível o conhecimento de alguns autores franceses, pois a França sempre colonizou nossa inteligência, colocar bem os pronomes e conhecer os clássicos portugueses. Apenas com isso, a bagagem literária e científica estava completa e os homens podiam aspirar aos mais altos postos da administração pública. Uma mentalidade bisantina perpetuava-se.

Na Bahia, entre Buy Barbosa, que foi um assombro, e o tribuno Cezar Zama, que era uma inteligência brilhante, havia gente que admirava muito mais o último porque não estudava, enquanto Ruy Barbosa não fazia outra coisa!

Certa vez, Sylvio Romero, homem de grande inteligência e cultura, conhecedor do alemão, por influência de Tobias Barreto, que criou no Norte, surpreendentemente, um núcleo de estudos germânicos, com a combatividade que sempre o caracterizou, quando o arguiram de não saber colocar pronomes, respondeu: "prefiro saber colocar ideias".

Por fim, encontramos uma fórmula de reajustamento. Tudo se acomodou; os brasileiros aprenderam a colocar os pronomes, segundo as novas formas lusitanas, talvez ainda não com toda a perfeição para os portugueses, pois isso ouvi afirmado por João Ribeiro em uma das últimas vezes que falou ao rádio. Antes, mesmo Ruy Barbosa, no O papa e o concílio, não sabia metodizar tal coisa, como largamente o demonstrou Carneiro Ribeiro.

Passada esta fase, a gente nova começou a agir de outro modo porque, incansavelmente, os classicólatras, daqui e d'além-mar, continuavam a bitolar o que nós dizíamos e o que o povo

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