Estudos da língua nacional

impunha. O vozerio cresceu, a reação se operou e finalmente começamos a escrever mais próximo da linguagem do nosso povo, e alguns autores de valor incorporaram aos seus livros a linguagem da nossa gente.

A luta proseguiu. Os lexicógrafos d'além-mar supuseram que, não inventariando o que nós dizemos, os vocábulos desaparecem do nosso falar: isto deu lugar à nossa reação de juntar glossários aos livros que escrevemos.

Assim como nunca se estudou convenientemente o tupi-guarani, ainda muito menos os contingentes das línguas africanas. O pouco que existe é deficiente, pois, quando Nina Rodrigues iniciou seus profundos estudos na Bahia calculou, há cerca de 40 anos passados, que apenas existissem, ali, 500 africanos puros, já todos velhos, marchando rapidamente para a morte. Tinham, no entanto, durante três seculos e meio, entrado no Brasil aos milhões.

Houve, mesmo, quem tivesse a coragem de afirmar que a língua africana não atuou no nosso falar, quando se vê, no entanto, que deixou impressão inapagável no nosso modo de dizer, não só como contingente vocabular como até na construção.

Aquela maneira de se exprimir do nordeste baiano, meu rimão, para meu irmão, é pura influência africana que tanto se disseminou e entra na nossa formação de maneira muito mais profunda do que se imagina. A frase feita fazer sala é uma alteração do vocábulo árave salah, que significa oração, e usado pelos negros malês da Bahia.

Estes aspectos, num país de verdadeira cultura, constituíram largo centro de pesquisas e de estudos. Com razão escreveu Leite de Vasconcellos: "Para o purista só têm valor os textos dos grandes escritores; o filólogo, porém, vê nas línguas frnômenos resultantes da atividade geral humana, e por isso, tanto lhe serve uma expressão plebeia como um trecho clássico".

Aqui estamos impedidos quase que de tal coisa intentar, pois se quisermos criar uma sociedade, será difícil impedir

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