Estudos da língua nacional

em idênticas condições, informa o cronista. Eis a pequena Babel na qual se eraborava a língua que hoje falamos. Os dez mil escravos índios e negros não sabiam ler e deveria ser ínfimo o número de portugueses alfabetizados. Tampouco o restante da população, composto de mulheres e crianças, formando tudo um aglomerado que deveria aproximar-se de 20 mil pessoas.

As línguas, dialetos, variantes e gírias surgem com uma rapidez maior do que se imagina. Depois da grande guerra, os autores franceses e alemães chamaram atenção para o vocabulário e a linguagem que os homens das trincheiras criaram. Uma gíria inteiramente desconhecida apareceu e foi refletir-se nos livros escritos pelos que participaram do grande horror.

Fenômeno mais profundo também pode verificar-se. Assim o demonstra Baissac quando, em Nancy, em 1880, publicou o seu Étude sur le patois créole mauricien. O livro com 250 páginas de composição miúda, no qual o autor estuda o linguajar de uma população de 400 mil almas, aproximadamente, apresentando estrutura e forma, a tal ponto de o autor não saber como qualificá-lo: se como um patois ou como língua. O interessante é que a ilha não era habitada até 1722, e já em 1880, isto é, 158 anos após, o que lá se falava era tão consistente que foi objeto de um estudo sério.

Mauritius, a antiga ilha de França, onde se desenrolou aquela pastoral de Bernardin Saint-Pierre, Paulo e Virginia, parece mais um pedaço destacado do Brasil no Oceano Índico. O destino me atirou naquelas remotas paragens. Lá estive durante 12 dias e sobre a interessante ilha escrevi no Daqui e de longe... um capítulo de reminiscências.

A princípio era uma Babel, como a Bahia descrita por Gabriel Soares. Baissac recorda o velho dizer e o vocabulário franceses que ali permanecem, guardados fielmente pelo povo, que mantém a pronúncia dos habitantes de uma província francesa cujos filhos colonizaram a Ilha. O mesmo se passou entre nós; guardamos a antiga pronúncia lusa.

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