que vai dos grandes estadistas que conceberam, planejaram e realizaram a exploração dos mares ao reinante enfatuadamente pueril e nulo. Em si mesmo, esse neto de Lencaster era a transparência de um tarado: bronco e faustoso, orgulhoso, pulha, mau e ingrato, sórdido e dissipado, ingrato e injusto, sibarita sem gosto, medindo valores humanos a peso de dinheiro, único valor que apreciava. Acolheu, explorou, adulou os judeus, até o dia em que os vendeu miseravelmente a Castela, quando, estultamente, imaginou chegar ao império da península: \"A qual obra [perseguição dos judeus] não tão somente foi de grão horror misturado com muitas lágrimas, dor e tristeza dos judeus, mas ainda de muito espanto e admiração dos cristãos\".
Nesse comentário, de um cronista da época, temos a medida do rei português que iniciou a campanha anti-israelita. Fez vir de Lisboa vinte mil judeus, para serem batizados à força, e, com isto, desencadeou contra os desgraçados a população, já meio ensandecida. E a história de Portugal teve de incluir a sua primeira página de ferocidade bestial e covarde: \"Este batismo forçado...revela a política dúbia e falsa de um governo que não tinha a coragem purista do castelhano, depois de ter perdido o bom senso e a humanidade dos tempos anteriores. Desumanos, os atos, eram ao mesmo tempo covardes ...\". E começa a carnificina hedionda. \"Os bandos iam caçar pela cidade os judeus escondidos...Traziam-nos às manadas de quinze ou vinte, amarrados, semi-mortos, e lançavam-nos aos montes nas fogueiras ... Os sinos dobravam a rebate chamando os fiéis à matança... No primeiro domingo, matou‑se meio milhar... Na segunda-feira mataram- se mais de mil...Na terça-feira, acalmou a fúria, porque já não achavam quem matar\". Três dias e três noites durou a orgia... mais de trezentas pessoas queimadas, mais de duas mil mortas...\". Espírito mercantil afortunado, \"com o acanhado dum negociante, ouvia