O Brasil

psicossocial, com as energias e os valores que lhe são próprios. As civilizações, e tudo que a elas se prende, não são emanações diretas das forças cósmicas, mas derivações dessas mesmas energias através do espírito, ao influxo de toda a experiência humana. Isto é, as obras de pensamento são fulgurações da realidade nas formas específicas da consciência. Se em tais criticos houvera, em vez de desabusada ostentação mental, um puro desejo de compreender as expressões da alma brasileira; se, em vez de leituras de oitiva, houvera o real critério científico, eles teriam percebido as diferenças essenciais entre o nosso indianismo e o dos franceses e norte-americanos. Teriam reconhecido, em Chateaubriand, o simples enlevo do romântico europeu em face do índio, o francês seduzido pelo exotismo das tribos (como sucedera com os poetas e filósofos do século XVII), mas patenteando uma mentalidade absolutamente distinta das tradições indígenas. Em Cooper, eles encontrariam mais penetração na vida do gentio, mais realidade de almas; em todo caso, verificariam na sua obra, a expressão de duas vidas paralelas: o índio, que se extingue, e o branco americanizado. Nas páginas dos nossos indianistas, há solidariedade de destinos, assimilação de ânimo, mesmo no caso em que o índio é apresentado na pureza do seu viver primitivo, e Y Juca-Pirama exalta-nos e comove-nos, ainda mais, porque no seu heroísmo de sacrifício há alguma coisa da virtude cristã, que lhe foi infundida pelo coração do poeta, ao contemplar o índio com quem se solidariza.

Os nossos líricos românticos foram as primeiras vozes originais no conjunto do pensamento nacional, e, com isto, fatores decisivos nas transformações sociais e políticas do Brasil. A sua obra tem significação bem nítida na história dessas transformações, e não pode ser bem compreendida e julgada se não a referirmos ao