desassombradamente contra a escravidão, em ideias e sentimentos só comparáveis aos dos grandes abolicionistas de 1888. Um Cunha Mattos, com voto separado contra o tratado, diz, no entanto, que reconhece no tráfico coisa condenável...O futuro conservador e escravocrata Bernardo Vasconcellos, como estava a explorar a corrente de ideias da época, dando a essas ideias a força do seu talento, produziu admiráveis discursos, fulminando, não só o tráfico, mas a própria instituição da escravidão. Até José Clemente, alteiando-se em patriotismo, condenou o tráfico e o trabalho dos escravos, como nocivos aos legítimos interesses do Brasil. Foi nessa ocasião que Ferreira França, ao ouvir do luso-brasileiro que o escravo era uma propriedade, não pôde conter, e veio à tribuna protestar: \"A proposição mais horrível que ouvi foi de que os escravos eram nossa propriedade: é horrível!...\". Meses depois, o mesmo José Clemente apresenta um projeto mandando que \"se vendessem os escravos pertencentes ao Estado do Brasil; Ferreira França replicou-lhe com uma indicação para que, em vez de vendidos, fossem tais escravos libertados. Era expressão de aspirações normais na época. E é por isso que, apesar da oposição ao governo imperial, a maioria da Assembleia aprovou-lhe o tratado de 1826, extinguindo o tráfico. Outros grandes políticos manifestaram-se francamente emancipadores — Lino Coutinho, José Custódio, Paulo e Souza, Paula Cavalcanti, Holanda Cavalcanti... Estabelecendo o prazo de três anos para suspensão do tráfico, a convenção de 1826 criava, para realidade da disposição, penalidades pesadas sobre os negreiros recalcitrantes, assim como a obrigação de, à sua custa, fazerem a repatriação dos africanos transportados para aqui depois do citado prazo, que findava a 3 de março de 1830. Ora, o Primeiro Império viveu ainda um ano, e nada, absolutamente nada, ele fez, no