O Brasil

projeto cujo artigo 13 concedia indultos aos contrabandistas de africanos. Nunes Machado, ao discuti-lo, chamou a tal disposição artigo-monstro. E o Senado, depois de dar tempo a que o público se habituasse com a infâmia, aprovou o conjunto do projeto, que chegou à Câmara em dias de 1850, quando a pressão do governo inglês não mais permitia legalizar o perdão dos negreiros.

A tradição destacada em José Bonifácio e Feijó teve a última manifestação, como política anti-escravocrata, no esforçode Antônio Carlos, em 1840, para obter em Londres aquilo que Feijó propusera por intermédio de Barbacena. Mas esse Andrada teve de deixar o governo aos mais adequados ao regimen, e nada concluiu do que intentara. Daí por diante, a política nacional fazia-se com o interesse do senhor de escravos, e exprimia a degradação do negreiro. O café já era ouro, e o negro se estimava assim: "Compra-se um negro por 300$000; ele colhe, num ano, 100 arrobas de café, que produzem líquido pelo menos o seu custo". Os grandes políticos assentavam, pois, a economia nacional na exploração da escravidão. Nem admira que houvesse um desses políticos escrito um livro de mais de 300 páginas para demonstrar, em 1845, a necessidade e as vantagens do restabelecimento franco e legal do tráfico, que, aliás, se fazia abertamente. Como o inglês reclamava o cumprimento do trabalho de 1826, e dava caça aos negreiros, lembraram-se, então, os inefáveis políticos dos brios patrióticos, e fomentaram os mesmos brios contra o estrangeiro que afrontava a soberania da nação, impedindo-lhe de cevar-se no trabalho dos africanos. Num certo momento, o escravocrata essencial, Soares de Souza, foi ao ponto de ameaçar o representante inglês : "Dada a insistência do Gabinete de Londres em reprimir o tráfico, mesmo nas costas do Brasil, o governo imperial via-se forçado