O Brasil

a colocar o comércio brasileiro sob a proteção dos Estados Unidos ou da França", ao que replicou Lorde Palmerston, com toda a propriedade: "Lembro-lhe que tanto a França como a União Americana estão ligadas à Grã-Bretanha por tratados contra o tráfico.". A inflexão de voz do inglês teria completado a resposta: "... e esses países cumprem os seus tratados". Completando a inépcia em má fé, um ministro brasileiro repetiu, em pleno Parlamento, as razões do célebre deputado defensor do tráfico, afirmando que a Inglaterra de 1850 só perseguia a importação de africanos, no Brasil, por motivos de concorrência e ganância comercial. Esse foi, ainda, o argumento do próprio referendador da extinção do tráfico, Euzébio de Queiroz, quando protestou contra o procedimento do governo britânico, que, desesperançado da dignidade governamental dos nossos estadistas, pusera um navio de guerra bem defronte do Paço, para apresar, dentro da Guanabara, os negreiros que, desassombradamente, faziam os seus desembarques.

Convencido de que ejaculava bom patriotismo, o mesmo ministro Euzébio afirmou: Se o tráfico se extinguiu foi porque o governo imperial assim entendeu fazer. Nem lhe acudiu ao discernimento que isto vinha provar, justamente, a tese do inglês: "O tráfico se faz com a aquiescência do governo brasileiro; só temos um meio de extingui-lo: obrigá-lo a isto". De fato, quando o governo imperial o quis, acabou com a entrada de africanos escravisados, mas já a voz de Gladstone havia lançado sobre o Brasil a veemente maldição em que nos apresentava ao mundo na nudez dos negreiros, ao mesmo tempo que nos ameaçava com uma guerra de extermínio. E era merecida, se tal só alcançasse o corpo dos dirigentes, cuja mentalidade se afinava com a do deputado provincial Vidigal, aquele que, em 1859, ainda teve a coragem para apresentar