O Brasil

voz de Paranhos, confessa que não tinha, como devia, o cadastro dos africanos entrados depois de 1831. Os negreiros estavam, pois, inteiramente isentados de darem conta dos seus crimes. Em 1863, três anos, apenas, antes de manifestar-se o tardio abolicionismo de Pedro II, o mesmo Tavares Bastos faz sua uma série de acusações às autoridades de se negarem a reconhecer os direitos de africanos patentemente livres, e, por sua conta, eleva a voz contra a política escravocrata do governo imperial: "O Governo Central é o primeiro a dar o mau exemplo do escândalo. Não é escrupuloso, nem sequer guarda a decência com os africanos da Casa da Correção, isto é, que aí trabalham". Antes, em 1861, já o grande liberal havia contado: "Ainda agora... o ministro da Agricultura remeteu 30 africanos emancipados ao presidente do Amazonas que os solicitou, para serem empregados nas obras públicas. Singular emancipação!".

Nesta forma, à medida que o resto do Ocidente se redimia, na conquista da justiça para com os cativos, nós tinhamos uma classe dirigente que não podia conceber outra forma de produção além do trabalho escravo, e só atendeu a essa questão quando o imperante, por interesses seus, por si a levantou. E, em vista desses mesmos dirigentes, nem se estranha que o Brasil chegasse à monstruosidade que é a da sua história: sendo a alma da nação essencialmente anti-escravocrata, a Abolição teve que se fazer depois que já não havia mais países de escravidão, e, ainda assim, em franca revolução contra a política corrente. Quando uma nação é governada por estadistas tão ausentes das suas legítimas tradições, a política será forçosamente perversão a contrassenso de todo legítimo desenvolvimento. Pois não vemos? O Império brasileiro, armado e conduzido por esses dirigentes ao zênite de glória e prestígio, marca o momento em que o estro brasileiríssimo de um