Castro Alves tem de desferir as notas da mais sentida compaixão que jamais soaram em língua portuguesa. O fato está no lineamento deste outro: o primeiro chefe do Governo que apontou a necessidade da abolição foi Zacarias de Góes. No entanto, cinco anos depois, manifestou-se e votou contra o insignificante abolicionismo de Paranhos, e isto concorda, ainda, com o proceder do mesmo Paranhos, que, no Conselho de Estado, se manifesta contra as insinuações da Coroa — fazer-se alguma coisa no sentido da Abolição —, e, três anos depois, aceita, chefe conservador, fazer votar, contra o seu partido, o projeto que a Coroa preparava. A seu tempo, será apreciada a qualidade de abolicionismo da mesma Coroa.
ABOLIÇÃO E REPÚBLICA
Em face da vitória abolicionista de 13 de maio, exclamou Cotegipe: Agora a República. O conceito valeu por uma previsão, quando, no entanto, não o ditou nenhuma perspicácia. O velho conservador continuava insensível à realidade, principalmente naquele momento em que se lhe movia a língua pelo valetudinário despeito. Cotegipe quis dizer que, abandonando os interessados na manutenção da escravidão, o trono perdia o seu sustentáculo, e tinha de cair ao primeiro embate dos republicanos. E, desenvolvendo o conceito, os sorrateiros monárquicos depois virão repetir que, por ser abolicionista, o trono se sacrificou, que a República brasileira resultou do despeito dos escravocratas contra o trono que os desamparou. Sob uma tênue sombra de verdade, tais juízos consagram os mais afrontosos ultrajes ao bom senso e à exatidão. De fato, o trono acreditava dever sustentar os interesses dos senhores de escravos como interesses conservadores