e de ordem, e sacrificou-se, tentando ampará-los, mantendo a nefanda instituição, quando, além de crime, já era estupidez uma tal política. Não há quem contemple a nossa história desapaixonadamente e não chegue a esta conclusão: o Brasil foi o último país a extinguir a escravidão por causa do Estado bragantino que se incluiu nos seus destinos. Não há dúvida que a República se liga diretamente à Abolição, mas toda a dependência entre os dois sucessos está em que a República aproveitou a ruína do regimen monárquico, abatido e desarticulado pela vitória da revolução abolicionista, e que todos os republicanos da propaganda eram abolicionistas. A torva politicagem do Império só teve sinceridade para ser escravocrata. A única luta séria em que se empenhou foi contra os abolicionistas, luta que era, finalmente, a do próprio regimen a defender-se. Nessa luta, o regimen esgotou as suas poucas energias morais, ao mesmo tempo que se mostrou a nu, na miséria dos seus processos e princípios. E, vencido, ficou à mercê dos vencedores imediatos, esse Exército que fez a Abolição e fez a República. Para inteira demonstração, basta rever o memorável desfecho: estimulados e conduzidos pelos abolicionistas, desiludidos dos recursos legais, os milhares de escravos levantam-se e embrenham-se nas selvas da serrania; quase inconscientes, quando já tinha às costas a questão — as questões militares, o governo imperial insiste em não ceder, e ordena às forças militares que vão capturar os escravos levantados. O Exército, levado pela ambiência, que é a própria alma da Nação, nega- se. Atônitos, os estadistas do regimen e da escravidão correm a atamancar um projeto de lei em que se acobertem, na esperança de evitar que a vitória da revolução os incompatibilize com o gozo do poder, e para que este não fique nas mãos dos triunfadores. Foi uma questão de meses: transigindo com a derrota,