O Brasil

afirmam que a República foi efeito da reação escravocrata contra o trono liberal, e que, liberal, preferiu sacrificar-se!

A Abolição foi ontem; vivem ainda alguns dos seus promotores, e muitos dos que a viram realizar-se, e todos sabem: ela resultou de uma desinteressada e impávida campanha, levada pela imprensa, realizada em comícios, e logo comprovada em atos — as multiplicadas liberações de escravos, conferências, defesas diretas de vítimas... Estrofes, artigos de fundo, discursos, meetings foram as suas armas na luta reiterada e indefectível para a imposição revolucionária da redenção absoluta dos cativos. E o trono permanecia à parte de tudo isto, diretor supremo da futricagem parlamentar, em que se sacrificaria o projeto Dantas, antes hostil à abolição, até que, nas vésperas da vitória, os imperiais poetetes lhe trouxeram as suas versalhadas. Que tem, pois, de comum, a realeza com essa campanha revolucionária? Imaginemos que o trono se opõe à Abolição, nos dias de 1888; o Exército que, em 89, o deu por terra, teria feito ali mesmo a Abolição e a República. E, agora, se os fatos não bastam para demonstração, temos os nomes. Toda a imprensa que concorreu para a vitória da Abolição, do Globo à Gazeta da Tarde, passando pela Gazeta de Notícias, foi, ao mesmo tempo, demolidora da monarquia. Se destacamos as pessoas, ainda é mais expressiva a concordância abolicionista-republicana. Saldanha Marinho, republicano desde 1869, redator do célebre manifesto, comparece como personalidade de destaque às festas onde se consagra o poeta dos escravos, e é o presidente de honra da primeira Sociedade Brasileira contra a Escravidão. Não que se deixe ficar a esperar pelo emancipacionismo de Nabuco, em torno de quem se organiza a mesma Sociedade. Bem antes, quando ela ataca os célebres liberais do Império, é