O Brasil

a Independência, com todo o prestígio do príncipe que fundara a Nação brasileira, o vigor da tradição republicano-nacional ainda é capaz de levar o Brasil a expelir o mesmo príncipe. Nesse transe, com toda a deturpação ligada à presença da massa dirigente na revolução, ainda foi preciso a invencível generosidade do coração brasileiro, quando o bragantismo renitente mostrava o trono num berço, para que em 1831-32 não se eliminasse a monarquia.

Em verdade, o Brasil nunca deixou de ser da tradição republicana. Mesmo quando o nome não é referido, as aspirações essenciais vão para a realização democrática radical.

Repassem-se as reformas decretadas pelo Governo Provisório da República, consagradas depois pela Constituição de 24 de fevereiro: são, substancialmente, as mesmas do projeto aceito pelos moderados para 5 de julho de 1832, e que só não foi reforma da Constituição devido à traição dos Hermeto e parelhas. Se a República aproveitou o desmoronamento do Império, vencido pela Abolição, também é certo que a aspiração republicana precedeu de muito a propaganda abolicionista, e quando o Brasil, nos estos do romantismo, renasceu para ideias, uma democracia radical foi reclamada antes de qualquer pretensão à abolição completa e imediata, isto porque, no sonho de um Brasil brasileiro e livre (1817), a emancipação dos escravos era apenas um detalhe como condição de uma pátria que se propõe à justiça e à liberdade, ao passo que a República valia como necessidade substancial, forma de aspiração em molde de virtude. Com isto, toda a beleza dos sacrifícios patrióticos, do Brasil em formação, é de heróis republicanos — de Bernardo Vieira a Tiradentes, aos esquecidos executados de 1799 na Bahia, ao padre Pessoa, Frei Caneca, Sabino, Pedro Ivo... Nas fileiras deste (em 1848) caiu heroicamente um