O Brasil

como membro da classe, pressupõe normas correntes de proceder e que não podem ser inventadas no momento porque em cada individualidade se reflete a condição da solidariedade no grupo, donde resulta que, finalmente, as condutas pessoais, na atividade corrente, ajustam-se num molde geral. Em tais condições, se o indivíduo não é bem nitidamente um caráter, terá como feitio pessoal esse molde geral.

Se tanto acontece em outras classes, que não existem para contínua e solidária ação coletiva, quanto mais na dos políticos, que além da unificação de destinos, devem solidarizar e harmonizar a ação para cada caso, em cada campanha. E, por isso, não há verdadeiras reformas sociais, com modificações radicais nos intuitos e nos processos políticos de um povo, senão por meio de revoluções completas, em que haja, além da substituição de programas, e de processos, a de gentes; por isso mesmo serão frustrados todos os movimentos políticos que deixem o poder e a máquina administrativa com os antigos servidores, em quem se refaz toda a substância do antigo regimen. Em razão desse império das tradições de classe, e porque os primeiros dirigentes brasileiros foram continuadores imediatos da tradição política portuguesa-bragantina, no que se lhes seguiram, encontramos todos os defeitos e vícios dessa política, que moldou a dos governantes brasileiros — Império ou República.

Não há quem tenha meditadamente analisado a miséria da nossa vida política que não haja apontado como causa de tudo as falhas características dos dirigentes. E que são os vícios e defeitos em que se define a respectiva tradição. Subimos das abjeções de hoje e vamos até à carência e o crime dos governos da metrópole sobre o Brasil; perscrutamos os males em que atualmente se amesquinha esta pátria e