para reduzir à inanidade do próprio merecimento as baboseiras, pretensiosas e erradas, dos que, brasileiros, e das classes dirigentes, têm feito para esta pátria um estigma de irremissível inferioridade — o ter, na massa da população característica, a combinação dos três fatores, onde entra o caboclo e o negro, ] condenados, inumanamente, anti-patrioticamente e asnaticamente, por inferiores. É essa a mais caracterizada pulhice do bacharelismo em arremedo de ciência.
Há um século, no encanto das filiações linguísticas, destacou-se, no pensamento científico, o tipo Aria. Era natural: confundiu-se parentesco idiomático e aproximação ou filiação de sangue. O Aria, que conquistara o idiomatismo, tomou o vulto de uma humanidade superior, a avassalar povos, dominara a universidade do pensamento, tanto como avassalara o regimen de expressão. Mas, presto, se fez a correção, e não há critério científico em que o conceito ariano se não tenha limitado a um valor linguístico: o Aria raça passou definitivamente para o museu das futilidades e pulhices, mas permaneceu no uso do pensamento bacharelesco, enfartado de dolicocefalia, nordiquismo, lourismo... com que a protervia pseudo-científica distribuiu a espécie humana, qual o zootécnico separa bovinos pelas tetas e o pelo. Nesse critério, o francês Gobineau, mesquinha mentalidade de diplomata, que se promoveu a conde, considerou-se promovido também em sangue, e proclamou, sobre as raças desiguais, a absoluta superioridade dos germanos... pois que um aristocrata francês é de sangue germano: Les plus purs, les plus intelligents de la race blanche... decretada essa raça branca a mais elevada, única realmente civilizável... E num momento decisivo, esses brancos destroem-se estupidamente, como se neles não houvesse nem humanidade, nem visão política.