O Brasil

COMO E PORQUE SE DETURPA A HISTÓRIA

Aos grandes povos, enquanto mantêm grandeza, não é difícil defender a própria história, e ter nela o necessário estímulo e inspiração. Mesmo sem tal intuito explícito, neles, a história é sempre a expressão, exagerada até, da grandeza nacional. O próprio valor que leva um povo a expandir-se e desenvolver o seu poder, leva-o a enobrecer-se, ampliando os seus feitos, dando-lhes significação e valor muito além da realidade. Que maior importância teve nos destinos da humanidade Luís XIV, as suas façanhas, em renovadas amantes e repetidas campanhas? No entanto, a história do seu tempo, como a contam os franceses, parece dominada pelo sensual orgulhoso de Versalhes. Ao lado, os ingleses inflam (com mais direito, certamente),nas façanhas do "Grande Protetor" com o triunfo sobre o batavo, enquanto os alemães multiplicam os efeitos políticos do seu Grande Eleitor. Também, se não fora assim, nada mais fácil do que compor a história universal. Bastaria justapor as histórias nacionais e teríamos a total historificação dos povos.

Ora, quem assim procedesse só obteria uma soma, contradizendo-se dentro de si mesma, uma verdadeira monstruosidade, visto que as histórias parciais não se completam, nem coincidem nos limites de umas com as outras. Então, nos povos de grande prestígio intelectual e político, para afirmação e consagração do mesmo prestígio, compõe-se uma "história geral" como complemento da nacional, isto é, cuja "generalização" se distribui especialmente para formar o fundo onde se destaquem os feitos em que se engrandece aquela a que ela vem servir, feitos cuja glória é, necessariamente, sombra para os outros povos. Resulta, finalmente, que há tantas "histórias universais" quanto há de grandes tradições nacionais que, assim, aparecem como centros de gravitação das outras tradições.