O Brasil

que compreendem, mas impõem muita coisa da sua barbárie. Tais fórmulas de composição política permitem que as populações, pacíficas e organizadas na antiga Roma, continuem a viver numa relativa cultura civil, mas, desaparecida a política universal romana, possuídos brutalmente pelos conquistadores, os grandes centros de civilização e de apuro do espírito humano, estaria suspensa a verdadeira evolução da espécie, para elevação e solidariedade, se não surgissem outros centros de cultura, outras organizações em que se realizasse, de mais em mais, a socialização da espécie. E quando parece mais profundo o negrume feudal, e mais torva a barbárie, com os aristocratas "cruzados", transitam monges e especuladores plebeus, que trazem do Oriente muito progresso e muita cultura já esquecida, sepultada pelas camadas invasoras.

Mais importante, ainda, para a continuação do progresso é o árabe, força gloriosa, flamejante de fé, mas tolerante, o árabe, possuído dessa mesma cultura desprezada pelo bárbaro, e que ergue a Espanha menos barbarizada do que qualquer outra Europa, e faz, dali, o alto pensamento do Ocidente, por todo o eclipse da "Idade Média".

Enquanto Paris é um miserável agregado de lares sujos e lôbregos, nas ilhas do Sena, e o grande duque de Normandia, poderoso Rei da Inglaterra, habitava a mesquinha "White Tower", Córdova tinha grandeza de arte e de inteligência, riqueza e luxo, a exemplo de Roma imperial. A sua universidade era feita na filosofia de Aristóteles, na ciência de Pitágoras e de Hipócrates: "cidades tan populosas como las modernas capitales del mundo, poblaciones interas eram immensas fabricas de tejidos". O Cairo, donde vinham esses árabes, era o conjunto de maravilhas comparáveis da Alcazar de Córdova, e o Alhambra de Granada, que são grandes belezas, mesmo para os nossos olhos.