A TRADIÇÃO ANTI-PORTUGUESA
Viemos de Portugal vasados numa abundante infusão de sangues, temperados de outras tradições, que, por simples, não eram menos vivazes; viemos dali, mas formamos nova tradição, distinta, diversa, cada vez mais diversa, ramo que se destaca, e mais se afasta quanto mais braceja e se estende para a vida. Independentemente dos motivos políticos, tiranizados, espoliados, diminuídos pela metrópole apodrecida, os brasileiros tinham que acentuar e caracterizar o seu nacionalismo em oposição com o português, porque esta é a lei das diferenciações históricas. No mesmo surto em que uma nação afirma a sua existência, apodera-se das suas qualidades características, isto é, as que já lhes são próprias; cultiva-as atentamente, dando a essa cultura o vigor de uma luta de tendências, relativamente àqueles, justamente, que lhe são mais próximos, e com quem poderia haver confusão. Nesses conflitos, reforçam-se as qualidades divergentes. Ao longo da história, encontram-se frequentes exemplos de tais lutas, sendo que nenhum é mais eloquente do que aquela que deu lugar a formar-se um Portugal, tão diverso de Leão-Castela, onde nascera.
Uma tradição não se engana, porque já é definição e caracterização de vida, em expansão instintiva. A nossa tradição se fez como expressão constante de nacionalismo, como a de todos os povos vindos de uma ramificação histórica, sobretudo quando estiveram submetidos a uma metrópole. Assim, claramente nacionalistas, hemos de conduzir-nos, até que, firmes e garantidos por vitórias decisivas, tenhamos, com isto, neutralizado os efeitos das persistentes ascendências. Uma tradição vizinha, sobretudo se teve ascendência, e se mantém influência com intervenção ativa, será sempre turbadora da nova tradição, turbadora por irritante e retardadora. Vale, então, como atração embrionária