Cartas do Solitário

CARTA VII.

Sinopse: - Ainda o Estado e os estabelecimentos religiosos de ensino. — Respostas a objeções. — A liberdade do poder espiritual e as restrições atuais.



Meu ilustre amigo. Eu não evito a luz do dia senão porque sou daquelas naturezas que só se apaixonam pelo desconhecido. Eu não cubro o rosto com a viseira escura do anônimo senão porque na minha idade, e com as minhas tristezas, é mais prudente falar da solidão, como de um oráculo. Se não fora o receio de fixar a atenção mais sobre o escritor do que sobre o assunto, assinaria o meu nome como a resposta mais formal à acusação de protestante ou de ateísta, que parecem dirigir-me os escritores ministeriais do Jornal do Commercio de anteontem. A propósito, citarei uma anedota.

Era em 1858, e movia-se no grande Parlamento inglês o importante debate sobre a revolta dos indígenas no Indostão, que os partidarios de Palmerston e Russell escolheram por campo de batalha contra o ministério Derby. Lord Shaftsbury, tão conhecido por sua religiosidade sincera e zelosísssima, reunira, em um domingo a tarde, em seu castelo, os membros do Parlamento infensos ao governo. No dia seguinte, Lord Derby, com aquela argúcia e fina zombaria que tanto distinguem a sua rara eloquência, permitiu-se a liberdade

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